– Já falei hoje que adoro Drummond?
– Já.
– Ah, me desculpe.
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A vida tem isso do ridículo. Poema que me devo a mim própria que é bom ninguém aqui escreve. Mas bobagem sobra aos montes. Sempre assim.
A do dia é que tentarei passear na linha nova do metrô – da Estação Faria Lima à Paulista. Dizem que inaugura hoje, duvido. Nas últimas vezes era alarme falso.
Lembrando que a Estação Paulista fica na Av. da Consolação e a Estação Consolação fica na Av. Paulista, é o tal do pega-gringo, esse tipo de coisa que cidade sem história inventa à guisa de folclore local.
Encontrei esse texto de 2007, publiquei no blogue da época, o Peixe de Aquário. O texto nem é bom, mas estava tão triste quando escrevi… nunca consigo esquecer isso da cratera, aquele horror todo, isso dos subterrâneos.
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A Cratera
Foto: André Porto/Folha Imagem
Estive com dificuldades em escolher a forma de se contar isso. Não decidi. Pensei é nos ensinamentos de García Márquez, quem escrevia histórias a partir de fatos reais de jornal, quando a realidade parecia muito mais fictícia do que seu realismo fantástico. Assim que sinto a cratera.
Era um lugar tão familiar. Perto e cheia de vida enterrada, um vulcão roto a engolir gruas de sobremesa, a mastigar caminhonetas de plástico. Um estômago ao ar livre com 80 metros de diâmetro e 40 de profundidade.
Ninguém conseguiu prever – esboça-se um sorriso de troça no povo sabedor das mentiras do jornal. Uma catástrofe sem acusados. A chuva tropical. A marginal interditada. Os grafiteiros haviam previsto nos astros de néon, em seus baralhos de concreto, mas os muros foram surdos. A marginal cede ao meio. O grande esgoto a céu aberto infiltra-se pelo coração da cidade como sangue grosso, penetra podre, tão podre e televisionado por helicópteros, drosófilas escuras e irritadiças. O poço escuro sem calçadas.
Cada minuto passa. A mão do bombeiro não nos alcança. Até os bombeiros devem preencher formulários.
Segunda-feira , 15 de Janeiro de 2007, escrito por ana rüsche às 22h52